6/20/2006

O código. De que mesmo?

As pessoas estão sendo enganadas pelo best-seller e, agora, pelo filme O Código Da Vinci?
Como distinguir a verdade da ficção?

Alguns o chamaram de o maior ataque literário ao Cristianismo desde Celso, um opositor do cristianismo que viveu no século III. No dia 19 de maio, a investida vai aflorar em milhares de salas de cinema por todo o país. A produção de Ron Howard de O Código Da Vinci, com Tom Hanks no papel principal, vai aumentar o dano feito pelo best-seller de Dan Brown. O fenômeno editorial—40 milhões de cópias vendidas no mundo inteiro antes mesmo de ser publicado em formato brochura—é lastimavelmente típico de um horizonte da mídia que está, atualmente, lotado de caricaturas de Cristo e da igreja que Ele fundou. Reações ao Código vêm em todas as formas e tamanhos, e os cristãos deveriam estar preparados com uma resposta pronta para todos eles.
Aqui estão algumas:
“Eu achei que a história foi legal de ler – um verdadeiro livro de suspense.”
Concordo! O livro é realmente difícil de parar de ler. Porém, no meio da história, uma cascata de fraudes, distorções, e verdadeiras calúnias sobre a nossa fé arruínam o esforço de Brown por alguém ainda interessado na verdade.
“Oh, de fato algumas coisas podem estar erradas no livro, mas nada sério.”
Se apenas isso fosse verdade! Infelizmente, muitas afirmações no romance são fantasiosas, não fatos—verdadeiras deturpações da história e tentativas maliciosas de desacreditar o cristianismo. O livro atesta que “quase tudo que nossos antepassados nos ensinaram sobre Cristo é falso.”
Ele nos diz que Jesus casou com Maria Madalena; que Constantino, o primeiro imperador cristão, era “um pagão de longa data” que confrontou o Novo Testamento; que os primeiros cristãos pensavam que Jesus era só um homem até que o Concílio de Nicéia o transformou em um deus; que Maria Madalena estava sentada à direita de Jesus na pintura de Da Vinci da Última Ceia; que Deus tinha uma consorte divina—e várias outras calúnias que seduziram alguns leitores a abandonar o cristianismo enquanto abalava a fé de outros.
“Certo, mas eu ainda acho que Brown está querendo chegar a algum lugar. Onde há fumaça, há fogo.”
Não necessariamente. A fumaça pode ser um nevoeiro—uma neblina opaca de inverdades, sedutores teoristas da conspiração e que se deixam impressionar, que tiram conclusões equivocadas baseadas na desinformação.
“A editora de Brown nunca teria produzido o livro se ele tivesse todos estes erros.”
Nunca cometa o erro de pensar, “se foi impresso, isto deve ser verdade.” Recentemente, parece que muitas editoras venderam suas almas para a linha de baixo baseada no lema: “Se é impressionante, isto vai vender; não importam os fatos!” O Código Da Vinci não seria publicado por nenhuma editora respeitável de Nova Iorque meio século atrás a não ser que fosse massivamente reeditado. O livro A Million Little Pieces de James Frey é apenas o último exemplo de fraude literária.
“Mas eu ainda acho que Brown e o seu livro são confiáveis.”
Bem, então, saiba disto: não há nenhum estudioso respeitável em nenhum lugar do mundo que endosse o que Brown fez. E finalmente, a resposta mais freqüente de todas (eu ouço isso regularmente): “Relaxa, Maier! É ficção, não é? Por que todo esse estardalhaço?” Argumento aceito, e é um bom argumento! O problema é que muitas pessoas lêem ficção como se fosse verdade. Veja o estrago causado por este romance. Na ficção existe uma dimensão de primeiro plano que envolve os personagens principais e suas ações, e um pano de fundo, que é o cenário. O autor é livre para fazer o que ele quiser com os personagens ficcionais de primeiro plano—isso é óbvio! Mas o pano de fundo (a não ser que seja claramente um romance fantasioso) é sempre exato para dar credibilidade. Brown, no entanto, ficcionalizou ambos! Consequentemente, leitores que estão acostumados a panos de fundo factuais vão pensar a mesma coisa de O Código Da Vinci e serão enganados. Uma ilustração pode ajudar. Centenas de romances foram escritos sobre a 2ª. Guerra Mundial. Por que, no pano de fundo de todas elas, os Aliados vencem e os Nazistas perdem? Ah! É porque foi isso que aconteceu! Agora, se Dan Brown recorresse à mesma abordagem que ele usou no Código para um romance da 2ª. Guerra Mundial, ele não veria problema nenhum em pintar um cenário no qual Hitler vencesse a guerra e pusesse Roosevelt em julgamento em Washington e Churchill em Londres! Leitores jovens, com pouco conhecimento de história, poderiam até acreditar nisso. E o que dizer dos que procuram a verdade, dos ateus, e mesmo dos cristãos com pouco conhecimento de história? Alguns estão acreditando nas calúnias do Código e, portanto, deixando de acreditar no cristianismo. Este é o perigo e o trágico. Todos nós precisamos lutar pela verdade, e o lançamento de um filme baseado em uma deturpação do passado certamente nos dará a chance de fazê-lo. E com as pessoas falando novamente sobre Jesus Cristo, a Bíblia, e a igreja, isso pode até ser uma rara oportunidade para o testemunho cristão.


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Dr. Paul Maier, autor do texto, é professor de história antiga na Western Michigan University e 2º. Vice-Presidente da Lutheran Church—Missouri Synod. E-mail: maier@wmich.edu . Extraído da Revista The Lutheran Witness de abril de 2006, pp. 18-19. (Tradução de Eduardo Farias )